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A economia da felicidade.

Postado por Marlon Marques. 29 de dezembro de 2010

por Roger Cohen*.


























A liberdade é um direito "inerente e inalienável" dos americanos, bem como a "busca da felicidade". Note a distinção aqui, evidência da sabedoria dos Pais Fundadores. A Declaração de Independência garante a liberdade, mas, no que diz respeito à felicidade, só sua busca está assegurada. A felicidade é difícil de quantificar e, sendo a mais fugidia das emoções, é difícil de manter. Ela pode ser causada por um mero raio de sol, um aroma trazido pela brisa numa rua movimentada, uma frase lindamente forjada, um molho suculento, uma lembrança terna ou uma passagem da "Ode à Alegria". O contentamento, seu primo, está imbuído de uma qualidade diferente, talvez uma satisfação mais comedida, que admite as eternas luzes e sombras da vida para chegar a um estado que consiste em ser feliz. Ser humano é se intrigar com a existência, não ser correspondido, conhecer a dor dos outros -em suma, sofrer. Algumas das maiores obras de arte derivam precisamente desse sofrimento, transpondo o pessoal para o universal. Essa arte, seja a "Nona Sinfonia", de Mahler, ou "Guernica", de Picasso, gera prazer. Como observou John Stuart Mill, "é melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um porco satisfeito". Sendo a felicidade tão difícil de reconhecer, não surpreende que os governos se abstenham de tentar mensurá-la. Os EUA não têm um termômetro formal para avaliar o sucesso dos seus cidadãos na "busca da felicidade". Supõe-se que outras medições -de crescimento econômico, renda per capita, confiança do consumidor e expectativa de vida- ofereçam pistas. De fato, as sociedades mais infelizes, por qualquer medida, são as da África Subsaariana. Mas, com o galopante progresso da tecnologia e da produtividade nas sociedades desenvolvidas, e com o maior estresse decorrente disso, cada vez mais governos estão questionando a correlação entre Produto Interno Bruto e bem-estar. Em 2008, o Butão decidiu que os programas governamentais deveriam ser julgados não por seus benefícios econômicos, mas pela felicidade que produzem. O governo britânico, recentemente, anunciou que começará a medir o grau de contentamento da população e pediu à estatística Jil Matheson que prepare um questionário. Ela poderia considerar o seguinte: 1) Com que frequência você esquece seu nome de usuário e senha, e quanto isso lhe irrita?; 2) Como você se sente quando seu telefone quebra e você acaba transferido para um "call center" em Bangalore?; 3) Câmeras de vigilância em cada esquina melhoram seu humor?; 4) E a garoa?; 5) Quantas dívidas você tem, e de quem é a culpa?; 6) Você gosta da sua família e/ou dos seus vizinhos? Não faço ideia dos resultados que Matheson vai obter. Os britânicos já estão por aí há tempo suficiente para que valorizem o estoicismo, o riso e a sabedoria de torcer pelo melhor. Os franceses tendem a ser mais mal-humorados, mas também entraram nessa de medir a felicidade. O presidente Nicolas Sarkozy se impressionou com o trabalho de dois economistas ganhadores do Nobel, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, que acreditam que a sustentabilidade e o bem-estar devem se tornar centrais nas mensurações econômicas. Mas o Insee, órgão nacional de estatísticas, achou mais fácil mensurar o descontentamento do que a felicidade. Nenhuma surpresa nisso. A entidade Fundação da Nova Economia publica há alguns anos o Índice do Planeta Feliz. Oito dos dez países mais bem colocados ficam na América Latina -a Costa Rica lidera, e a Colômbia, arruinada pela violência, não fica muito atrás. Claro que a América Latina é o mais desigual dos continentes. É também, em geral, um lugar de famílias fortes, de sol forte e de tradições fortes, onde a busca pelo prazer costuma se sobrepor à busca pelo lucro. O mistério permanece. Índices de felicidade são legais, mas não acho que nos tornem mais felizes. O tédio é um terrível tormento das sociedades modernas. Eu gosto do conselho de Oliver Wendell Holmes Jr.: "Como a vida é ação e paixão, exige-se do homem moderno que ele compartilhe a paixão e a ação da sua época, sob pena de ser julgado como não tendo vivido". Esse tipo de felicidade não está disponível na Costa Rica. Também acho verdadeiro o provérbio chinês: se você quer ser feliz por um dia, fique bêbado; por uma semana, mate um porco; por um mês, se case; pela vida toda, seja jardineiro. Voltaire tinha razão: cultive o seu jardim.

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*É um jornalista britânico, colunista do The New York Times e do Herald Tribune International, foi correspondente internacional em mais de 15 países e é um grande especialista em Oriente Médio.



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