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Futebol - os limites da liberdade, a democracia e o bom senso.

Postado por Marlon Marques. 21 de janeiro de 2011

por Marlon Marques.

























O futebol é um palco onde a vida se reproduz. É uma micro-esfera. É um micro-mundo de representações reais. Podemos discutir muitas coisas usando o futebol como metáfora – como desculpa. 11 homens atrás de uma bola – também é. Mas é mais do que isso. Democracia não diz respeito apenas a poder e ao povo no poder – a igualdade de importância decisória como ocorreu no início dos anos 80 no Corinthians de Sócrates, Vladimir e Casagrande. Democracia também diz respeito a liberdades – incluída aí a liberdade de expressão. Como já dito aqui nessa coluna – a liberdade é um conceito, uma ideia muito complexa – pois ao mesmo tempo que pressupõe a ideia de que um indivíduo pode fazer tudo, condiciona-se aos limites do outro. Exemplo – estou na minha casa e quero passar o dia inteiro batendo na parede da minha sala, afinal, estou na minha casa, sou livre e logo posso fazer o que eu quiser. Porém essa parede é a que faz fronteira com a casa do vizinho e ele, incomodado com o barulho, também está na casa dele, é livre e que como pode fazer o que quiser, quer ficar em silêncio. Veja o choque. A liberdade do querer fazer de um interfere no querer fazer do outro e vice-versa. Para resolver esses impasses é que existe o bom senso. O bom senso equilibra as relações humanas – pois implica ou em ganho mútuo ou em perda mútua – pois só assim é que as partes sedem. No dia 19 de janeiro de 2011, ocorreu na sede da Sociedade Esportiva Palmeiras, eleições presidenciais – onde o destino do clube seria decidido para os próximos dois anos. Com o clima já quente pela disputa entre os candidatos – pelo momento difícil vivido pelo clube, entre outras coisas – uma declaração de um jornalista fez as coisas ficarem ainda piores. O jornalista a serviço do jornal Agora, Thiago Vieira postou em seu twitter a seguinte declaração: “enquanto os porcos não se decidem poderiam mandar mais lanchinhos e refrigerante pra imprensa que assiste ao jogo do timão na sala de imprensa”. Essa foi à ação do jornalista – e como para toda ação há sempre uma reação, os seguranças do Palmeiras junto a alguns dirigentes, agrediram e expulsaram o jornalista da sede do clube. Veja – a liberdade de um se chocou com a liberdade do outro, e nesse caso não houve espaço para o bom senso. Analisando mais friamente possível – a declaração embora seja um direito do jornalista, foi no mínimo desnecessária, para não dizer infeliz. Você pode me dizer: – há, mas ele não pode dizer isso? Eu respondo – claro que ele pode, mas a questão é: ele deve dizer? – isso é necessário? Na minha visão, a declaração foi totalmente provocativa – uma vez que faz referências a elementos de desagrado ao Palmeiras. A denominação “porcos” – têm aí pelo menos dois sentidos – “há mas eles se auto-denominam assim?”, uma coisa é o que você diz sobre si mesmo, outra é alguém dizer sobre você. É sua liberdade sendo exercida sobre si mesmo e não outrem sobre você. É o caso de um bêbado – ele tem direito (a liberdade dele) de beber a quantidade de álcool que quiser e bater num muro e até morrer se quiser também (é o corpo e o patrimônio – o carro, dele) – agora não é certo ele sair por aí e atropelar pessoas (interferindo na liberdade alheia). A declaração ainda cita o maior rival do Palmeiras – num tom algo debochado, quem querendo dizer que o motivo pelo qual ele (jornalista) estava lá (as eleições do Palmeiras) eram de importância secundária (sendo o jogo do rival mais importante). É legítimo reivindicar um melhor tratamento (no caso o lanche e o refrigerante) – mas há formas e formas de se fazer isso – sem contar que ele estava ali na condição de jornalista e não de torcedor. Do outro lado temos a violência e a truculência. Que de qualquer modo é injustificável – porém analise, se no nosso mundo já há tanta violência gratuita, imagine quando há um motivo! A parte agressora se sentiu também agredida com os insultos e num claro revide, decidiu dar um tratamento semelhante – não igual, porque estamos tratando de categorias distintas de violência. Seria melhor convidá-lo a se retirar (direito do clube ter em suas dependências quem ele quer) – ou exigir um pedido de desculpas (pelo que eles consideraram uma ofensa) – não agredir, inadmissível. E é engraçado como com nossos próprios atos conseguimos perder a razão – o jornalista estava certo em reivindicar, mas errou em ofender – os seguranças e dirigentes estavam certos em expulsá-lo, mas erraram em agredi-lo. Se pensarmos também – a liberdade nos faz mais impulsivos (justamente por ser um direito inalienável) – então achamos que podemos tudo. Sartre disse que “somos condenados a sermos livres” (não necessariamente assim) – é uma maldição-condição, e por ser essa uma força que não podemos controlar, usamos isso como justificativa para todos os nossos atos – já que somos livres. Somos parcialmente livres – pois vivemos numa sociedade contratualista (Hobbes – Rousseau) – cedemos parte de nossa liberdade justamente por um “suposto” bem maior – o bom senso (forçado pelo conjunto de leis – constituição). Logo, o bom senso é uma força importante para mediar as relações – embora nem sempre funcione.






















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