CAPPUCCINO

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por Marlon Marques.

























Eu sou uma pessoa que constantemente digo que a vida adulta é ruim. Há mas temos o ganho de liberdade e a possibilidade de ter emprego e dinheiro – e daí? Emprego significa patrão e horário e dinheiro significa dívidas e ajudar no orçamento da família – em quê isso se parece com um sonho? Costumo dizer que a “fatia” mais doce da vida, é justamente a fase que vai dos 8 aos 17 anos, a dizer, responsabilidades e obrigações mínimas. É claro que a idade para tal está diminuindo, mas considerando os 18 anos ainda como marco inicial, digo que a partir daí sua vida começa tornar-se um inferno. Temos três tipos básicos de cobrança: 1) a sociedade, 2) nós mesmos e 3) nossos país. A sociedade impõe os valores e cria as regras do jogo. Aqueles que não se enquadram nessas regras – são banidos da sociedade – via preconceitos. Sofrem discriminação por serem diferentes ou por agirem diferente. Como a família é parte da sociedade – e logo são estruturas que se complementam, a família incorpora o ethos social e a cobrança da rua entra dentro de casa. Aquilo que era apenas público torna-se privado, e o inimigo passa a ser o mais íntimo possível. Numa canção obscura Raul Seixas canta: “o que é que você quer ser quando você crescer, alguma coisa importante, um cara muito brilhante, quando você crescer” – ou seja, todos lhe perguntam o que você vai ser? Um médico ou um advogado, um arquiteto, engenheiro ou dentista – fisioterapeuta talvez, veterinário ou nutricionista? – Essas são boas carreiras filho! – Isso mesmo, seu pai tem razão! Na mesa de jantar na casa da sua futura namorada o pai dela também lhe pergunta: – E aí qual carreira vai seguir? Seu namoro depende de uma resposta socialmente aceitável e financeiramente rentável. Essas carreiras significam dinheiro, sucesso e prestígio, e é isso que todo mundo busca, certo? Até pode ser – mas também não significa que se eu não escolher essas carreiras eu serei um fracasso. Os conceitos de fracasso e sucesso dependem do repertório pessoal de cada um, ou seja, são conceitos relativos. Os pais querem o melhor para os filhos – e muitas vezes esse querer bem, acaba causando a infelicidade a longo prazo. Muitas pessoas seguem aquilo que os pais querem, e não o que eles próprios querem. Ou você vira advogado por que seu pai é advogado, e seu avô era advogado e logo é a profissão da família (manutenção da tradição) – ou você vira advogado porque seu pai quis ser advogado e não conseguiu. Ele então se realiza em você, e você se realiza aonde – no seu filho quando tiver o fazendo ser o que você não pode? A família ajuda muito, mas atrapalha muitas vezes na mesma proporção. Pais e mães são comparativos. Eles sempre acham um primo distante ou um filho de uma amiga que é muito bem sucedido e ganha muito bem: – Bem que você podia ser como ele né? Quando não, o exemplo vem de casa. Seu irmão ou irmã é bem casado, feliz, têm carro, filhos lindos, casa própria, faz viagens, têm empregada, investimentos e isso quase o obriga a ser como eles. Você precisa ser um sucesso – a qualquer preço, seja lá o que for esse “sucesso”. Você precisa seguir a receita, mas não vale com seus ingredientes, é preciso que sejam os ingredientes deles. Seus pais querem o melhor pra você – por isso eles te cobram, jogam na sua cara que sua vida está parada e que suas escolhas não te levaram a lugar nenhum: – Filho, ouve seu pai e sua mãe, nós sabemos o que dizemos. Só queremos o melhor pra você! De um lado a sociedade te diz que você precisa ser bonito, magro, estar na moda, malhar, etc., do outro lado sua família te diz que é preciso escolher a carreira certa, mudar suas opiniões, ouvi-los e seguir exemplos bem sucedidos. De tanto ouvir (e de tantas cobranças) você começa a se indagar: – Será que eu é que estou errado? Aí entra a sua cobrança. Sábado à noite – você sem dinheiro, solteiro, sem carro, sem amigos, todos saíram para curtir a noite e você em casa em frente à tv de pijama no sofá. A conjuntura é bem favorável para você se sentir um completo fracassado. Aí começa a fazer sentido todas às cobranças (para o seu bem) – e na tv as propagandas dizem: “Pão de açúcar, lugar de gente feliz”, ou mostram belos jovens em seus carrões esportivos, ou uma Gisele Bündchen magérrima, linda, ou um comercial de margarina ou cereal matinal onde todos são felizes. Você se sente pressionado. De um lado suas escolhas causaram caras feias em casa, desprezo social e incerteza financeira – do outro lado, a concorrência é enorme, pois, todo mundo rema de acordo com a maré (não contra), todo mundo quer ser bem sucedido, um sucesso completo. O que fazer? Como diz a “Lei de Murphy” – tudo que está ruim pode piorar, me aparece uma plebéia chamada Kate Middleton e piora tudo. Como assim? Kate Middleton simplesmente se casou com o príncipe Willian, e tornou-se nobre – agora (princesa) Duquesa de Cambridge. Imagine a situação da irmã dela. A pressão que os seus pais irão fazer sobre ela: – Bom filha, sua irmã agora é uma princesa, e você vai fazer o quê da sua vida? Como superar isso? Imagina agora a cabeça dessa menina – com sua irmã realizando um sonho, com um exemplo desses dentro de casa e toda a pressão para no mínimo igualar esse feito. Como o fator “Kate Middleton” atinge as nossas vidas. Superar um feito grande não é a questão, já é complicado igualar. Não é que é ruim o sucesso de alguém – o problema está no paradigma que isso vira. O sucesso de alguém vira um parâmetro social e nossas famílias acabam usando isso como referência para nos cobrar. É só perceber – a USP é uma obsessão dos estudantes, se não for USP não serve nada. A sociedade qualifica demais a USP (que é muito boa – a melhor universidade do Brasil), e desqualifica demais as outras (erro). Ter um emprego público, trabalhar em uma multinacional, trabalhar num banco, tudo isso é o que a sociedade diz que é correto (isso entre outros empregos) – não conseguiu isso, mal sucedido. Não somos nós que criamos essas metas, apenas aceitamos. Quando aceitamos metas altas demais para nós – quando não conseguimos atingi-las ficamos mal. Mal por termos decepcionado nossos pais, por sermos um fracasso social e por nos considerarmos um fracasso. É claro que ninguém vai se tornar “princesa” ou “príncipe” – isso é só para ilustrar metas altas, o que devemos é “ser quem podemos”. Enquanto não começarmos a decidir nossa própria vida, a definir o que é felicidade para nós e parar de sonhar alto demais, seremos infelizes. A infelicidade vêm porque os outros decidem nosso caminho (as vezes o que os nossos pais querem não é o que queremos) – somos infelizes quando a felicidade dos outros passa a ser a nossa (ela pode ser diferente do nosso ideal de felicidade) – e somos infelizes quando tentamos atingir algo que não podemos. Isso não significa sonhar pequeno ou ter sonhos medíocres – sim, ter consciência do nosso potencial, da nossa capacidade e do que conseguimos fazer com as laranjas que temos.


































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