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Ensaio sobre a saudade e a lembrança.

Postado por Marlon Marques. 23 de outubro de 2011

por Marlon Marques.



























Embora seja muito estranho para alguns, a saudade não é uma característica inata dos seres humanos, ao passo que a lembrança sim. A lembrança é uma função cerebral com propósitos diversos, porém essencialmente evolutivos. Se não lembrássemos, não teríamos a capacidade de aprender, e sem aprender o homem não evoluiria. Já a saudade pressupõe a falta ou a ausência de algo – temporariamente ou não. A saudade é bem definida – só a sentimos quando a experiência é boa. A lembrança não, independentemente da experiência ter sido boa ou não, ela ocorre. A saudade é cultural, já a lembrança é natural. Disse tudo isso para abordar esses dois tópicos nos relacionamentos. A saudade funciona como uma espécie de combustível para os relacionamentos, evitando muitas vezes um desgaste natural. Sim, o desgaste é natural e inevitável, porém alguns casais conseguem superá-lo e prosseguir, já outros sucumbem por sua incompetência em superá-lo. A saudade é um mecanismo importante – se bem usado é claro – em relacionamentos. Frank Jorge canta em “Esperando a saudade”: “gosto tanto que chego até a ficar sem te ver. Esperando a saudade apertar meu amor, por você” – ou seja, ela funciona como uma força que impulsiona a relação, provocando a vontade de estar. É uma equação difícil de entender né? – ficar longe é igual a ficar mais perto. Só sinto falta do que não tenho – e se sinto falta é porque me faz bem. É sim um bom sinal. Às vezes a saudade é boa porque implica que o outro está distante e portanto não está sufocando-o (e vice-versa). Veja, porque muitos relacionamentos onde o casal é muito próximo não dá certo? Justamente porque alguém se sente sufocado e nos casos mais graves sem vida própria. Então nos momentos em que estão muito próximos – cabe um distanciamento, é claro, de leve, tipo um dia sem ligar. Isso causa certamente estranhamento na outra pessoa, que está tão acostumada ao contato direto. Aí da ausência surge a falta – e isso causa a reflexão: “poxa, como é ruim não estar junto”. Então quando se encontrarem não haverá tempo para brigas ou discussões (que são igualmente importantes, desde que não sejam constantes) – pois irão querer aproveitar cada segundo juntos. Geralmente quando a saudade acontece com o término de um relacionamento, significa que ainda existe sentimento. Só se sente saudade de algo bom, que faça bem, que se goste – então esse é o claro sinal de quê a pessoa ainda gosta da outra. Numa situação assim envolve também as lembranças. Porque o pensar no outro (com saudade), trará automaticamente a lembrança dos momentos vividos, sobretudo dos bons momentos. Entretanto se o indivíduo que rompeu lembrar, certamente não lembrará com saudades, pois na maioria dos casos, você rompe um relacionamento que não está sendo bom pra você.























E se não é bom você não sente saudade, pode até lembrar, mas não com vontade de voltar, de repetir. Quando se termina um relacionamento longo ou um relacionamento curto porém muito intenso – é inevitável não lembrar. Mas a saudade vai depender de como o relacionamento termina. Nem todos os relacionamentos terminam mal – há casos e casos. Quando se vive muito tempo com alguém, é comum ter muitas lembranças justamente pelo número de coisas que viveram juntos. E aí voltamos à questão inicial de natureza versus cultura. Lembrar é aprender. Muitas vezes aprendemos com os nossos erros, do presente e do passado sobretudo, porém como iríamos tirar as lições do passado se não lembrássemos? Essa é a importância de lembrar, como diz o ditado – “recordar é viver”. E isso nos mostra que podemos aprender mesmo com relacionamentos que não deram certo. Aprendemos a identificar características que não gostamos ou que tendem a não serem compatíveis com as nossas, aprendemos os nossos limites e até o que somos capazes de fazer – inclusive por amor (e por raiva também). Só que há também o lado negativo disso tudo. O indivíduo que vive afogado em lembranças, muitas vezes não sai do lugar. As lembranças boas trazem a saudade e fazem a pessoa buscar esse estado perdido a todo custo. As lembranças ruins trazem o amargor e tendem a levar o indivíduo ao caminho da desconfiança. Se aconteceu uma vez, vai acontecer sempre. Em ambos os casos não se sai do lugar. Do mesmo jeito que é bobagem jogar todos os objetos do relacionamento anterior fora, e tão bobagem deixá-los expostos – para serem o ativador das lembranças. A forma ideal – se é que o ideal é atingível, é entender que somos seres que lembramos porque temos memória, mas que somos seres dotados de condições de aprendizado, e portanto a saudade é opcional. Ou seja, mesmo que as experiências as quais você se lembre sejam as melhores possíveis – esquecer você não vai, agora ficar lembrando e sofrendo de saudade disso é uma opção que você faz.


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“Louvar o que está perdido, torna querida a lembrança”.

Shakespeare.

“Temos as lembranças que merecemos”.

Gérard Bauer.

“A saudade que me dois, não fujas, crava – o teu pungente espinho sem piedade”.

Camilo Castelo Branco.



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“Vivo num mar de passado, afogando em lembranças e nadando em recordações. Você seria a ilha que me salvaria, caso não fosse o barco que está a léguas de distância de mim”.

Marlon Marques.





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