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As ilusões do amor.

Postado por Marlon Marques. 5 de março de 2012


por Marlon Marques.




















Quantos eu te amo você já ouviu hoje? E quantos você já ouviu em toda sua vida? Muitos presumo eu. Dessa forma me faz pensar que você foi muito amado. Engano seu! É possível que ninguém nunca tenha te amado. É possível também que nunca conheça o amor. É fato, o amor é banalizado em nossa sociedade e nesse mundo. As relações de hoje tão superficiais, se atrevem a colocar o amor como expressão integrante desse escopo. Pessoas se conhecem numa noite e na própria (noite) já trocam “eu te amo”. O amor passou de um artigo de luxo na Idade Média para um artigo abundante no século XX e XXI. Nelson Rodrigues disse: “o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro” – e nunca isso foi tão verdadeiro. O amor hoje é medido, pesquisado, comprado, vendido, trocado, negociado. Eduardo Giannetti escreveu o elogiado “Auto-engano” – e usarei essa expressão para começar a esmiuçar minha idéia de amor. A maioria das pessoas não ama, se enganam apenas. E não se trata de enganar o outro, mas sim de duplo auto-engano. Ou seja, é uma via de mão dupla. Você diz que ama e o outro finge que acredita e depois diz que te ama e você diz que acredita. Na verdade, ambos estão se auto-enganando – acreditando que estão amando e sendo amados. Assim vivem uma cômoda ilusão – “conheça a verdade e a verdade vos libertará”, disse Jesus e retomaremos depois. O que chama de amor é na verdade outras coisas menos o próprio amor. Não se chega ao amor diretamente – o amor é uma construção que passa por muitos estágios. O que chamam de amor é uma camuflagem – que esconde outros sentimentos, evidentemente inferiores ao amor.



















1. Paixão. Na maioria das vezes o que chamam de amor nada mais é do que “paixão”. A paixão é um sentimento levado a um alto grau de intensidade. Justamente por isso é fugaz, dura pouco. Começa muito forte – dá-se a impressão de que é amor, e verdadeiro, mas depois passa como uma brisa. Quando se está apaixonado, o raciocínio fica em segundo plano – faz-se coisas estranhas e quando passa, coloca-se a culpa no amor. Diderot vê nelas a fonte de todos os males e de todos os prazeres do homem. O Marquês de Maracá diz que “mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas”. A paixão é importante para nos desenvolvermos, porém não podemos viver apaixonados para sempre acreditando ser isso o amor. A paixão geralmente leva a dois caminhos:

2. Tara. A tara é a paixão em nível muito alto. Quando a paixão atinge seu auge, chega-se na tara. Aí se não se toma cuidado, a pessoa começa a enlouquecer. Nesse estágio a pessoa faz coisas mais do que estranhas – patológicas. Perseguições, telefonemas em qualquer horário, mensagens, loucuras de amor, etc. Geralmente a outra pessoa não gosta (claro). No começo tenta conversar. Mas depois começa a se sentir ameaçada, com medo, pois as coisas começam a evoluir até virar outra coisa pior.














3. Obsessão. A obsessão leva a angústia do ser, tornando o outro como o objeto único de seu pensamento. Nesse estágio a pessoa vive pela outra. Às vezes adquire status de devoção, com altares com fotos e objetos da pessoa. As perseguições se tornam freqüentes. O indivíduo não se contenta mais só em olhar (como na tara), ele passa a querer de qualquer forma – intervindo fisicamente no outro. A obsessão gera violência e até morte. A pessoa não aceita o outro em uma nova relação – aliás, não aceita o outro sem ele. Paul Carvel disse: “paixão é uma obsessão positiva. Obsessão é uma paixão negativa”. A obsessão é um beco quase sem saída. É um estado patológico, de doença – erroneamente chamado de “doença de amor”. Isso não é amor, é justamente obsessão. O obcecado no fundo é um egoísta e não ama o outro – ou ama a si mesmo ou é apenas um doente auto-enganado.



























4. Desejo. A paixão se não se torna obsessão e nem tara, assume a forma do “desejo”. O desejo é uma vontade enorme de possuir algo. O desejo geralmente é contido, quando se exacerba virá a obsessão por outras vias. O desejo é algo intimista, voltado a si mesmo. O chamado amor platônico – relaciona-se com o desejo de ter (não tendo). Seria melhor então chamá-lo de desejo platônico – já que o amor está no mundo das idéias e o que se alcança é a paixão através das sombras da caverna. Bernard Shaw diz que não alcançar o desejo é uma tragédia humana – uma tragédia própria, se sofre sozinho. Desejar é querer demais algo, e querer de mais algo não significa amar demais esse algo. Se deseja por muitos motivos, um dos mais comuns é o orgulho.






















5. Orgulho. O orgulho está relacionado com o desejo de possuir, de possuir por orgulho. Orgulho próprio. Orgulho é sentimento de dignidade pessoal e amor próprio demasiado. Isso tem muito de narcisismo. Você quer a outra pessoa não por amor, mas por status. Para não ficar sozinho ou para mostrar-se para os outros como alguém bem sucedido – inclusive no amor. Amor? Não é amor, é apenas vaidade. O orgulho e a vaidade são irmãos. E também não é bem amor próprio, é mais auto-veneração. Enquanto Calígula era luxurioso, Nero era vaidoso. Queria estar em evidência sempre. Às vezes o outro é importante para reforçar a sua imagem perante si mesmo e para os outros. No orgulho dificilmente o amor aparece. Embora não apareça também nos demais – mas é no orgulho que não aparece mesmo. La Rochefoucauld disse: “se não tivéssemos orgulho, não nos queixaríamos do orgulho dos outros”. Todos temos orgulho, mas quando se passa da medida, caí no narcisismo algo patológico – e alguns consideram tão horrível quanto a obsessão – se o narcisismo não for uma forma de obsessão.


O caminho do amor passa pelo “si próprio”. Só se consegue chegar ao amor sozinho. Só se ama alguém verdadeiramente se você se amar primeiro. Como poderá dar algo a alguém que não consegue dar a si mesmo? Aí volta-se a frase de Jesus: “conheça a verdade e a verdade vos libertará”. Entendendo-se isso como uma verdade – “o amor primeiro por si e segundo como partilha” – você estará liberto para viver o amor. Só que o amor próprio só é benéfico quando se torna o caminho para partilhar. Chris McCandless disse: “a felicidade só é verdadeira se for compartilhada”. O mesmo se diz do amor. O amor só é verdadeiro se for compartilhado, e você só compartilha o que tem. Por isso sempre digo, ninguém nunca chega ao amor diretamente – o amor é uma construção – de você para os outros e vice-versa.




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1 Responses to As ilusões do amor.

  1. Quero comentar o primeiro parágrafo, porque os que seguem são explanações acerca do que não é amor, mas sim, alto-engano. Lendo o primeiro parágrafo, eu lembrei de como eu fui criada (e sou até hoje). Eu e meus irmãos não temos a prática de dizer "eu te amo". Nossos pais não dizem isso um ao outro. Ótimo? Não há nada ótimo, mas não é do simples falar que o texto discorre. Amar é algo profundo, mas simples. Pra que eu não pareça contradizente, basta pensar "o que é amar". Valorizar-se, sim. Conhecer-se, também. Apenas não sei se sabe quem será apto a "partilhar" amor consigo, por exemplo, e é por essa busca que muitos (erroneamente) caem na paixão.


    Acredito que amor é algo que deve ser percebido, o amor entre duas pessoas é algo que acontece paulatinamente, como o autor disse acima, é uma construção. A premissa é que eu ame a mim para que tenha base suficiente para amar o outro. Até parece fácil, mas a simplicidade está em entender esse processo, mas não em apreendê-lo.

    Para que isso que estou escrevendo não fique extenso, só quero deixar o que acho: Paixão e seus derivados são consequência (por vezes) da insegurança.

     

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