CAPPUCCINO

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por Marlon Marques.




















Por mais que pareça estranho para muitas pessoas, eu considero o ciúme não apenas normal, o considero essencial para um relacionamento. O ciúme é uma espécie de diagnóstico da relação. Ele por incrível que pareça indica como as coisas estão ou são. Porém o ciúme só faz sentido – e portanto torna-se uma coisa útil, na medida de nossa imperfeição. Bom, para isso eu vou usar as idéias de Platão para melhor explicar. Quando alguém entra em um relacionamento, a pessoa deseja ser importante para a outra. Num mundo ideal – ou o mundo das idéias e das formas perfeitas de Platão – não precisaríamos do ciúme para nos sentirmos importantes e valorizados (e consequentemente para se importar e valorizar). Porém estamos num mundo imperfeito (das sombras), onde tudo o que vemos são cópias malfeitas de tais modelos ideais. Então como nunca atingiremos a perfeição – para nos sentirmos valorizados, usamos o ciúme. A nossa necessidade torna o ciúme uma coisa positiva. Usando uma escala de 1 a 10, podemos analogamente entender o porquê o ciúme é importante. De 1 a 4. Nessa margem, o ciúme é pouco. Quando se está nesse nível à impressão que se dá ao outro é a de indiferença. Veja. Você está conversando com outra pessoa de forma mais carinhosa e a outra pessoa não se incomoda nem um pouco com isso? Parece estranho. Dá a entender que ela não teme perder. Tanto faz como tanto fez. Se não teme perder é porque não dá muita importância. Pois como diz a canção “Sozinho” – “quando agente gosta é claro que agente cuida”. Por outro lado, quando a margem vai de 7 a 10 – chega-se ao outro extremo. Pessoas com esse nível de ciúme transformam-se em “possessivas”. Como a palavra sugere, a pessoa transforma a outra em sua posse. Isso é o pior que pode acontecer. Esse estado leva a loucura. O possessivo enxerga tudo no superlativo. Se toca seu celular é alguém que você vai combinar de sair. Se te mandam um sms é uma mensagem romântica. Se te chamam no MSN é porque você tem um caso com alguém. O possessivo sente ciúme até dos membros da família. Odeia que seu amor saia na rua e tenha contato com outras pessoas. Enquanto um extremo é indiferente e não liga – o outro liga excessivamente. Enquanto um não teme perder, o outro não aceita a possibilidade da perda. E quando não se aceita perder, faz-se qualquer coisa. Daí é que vêm os crimes passionais. Nos dois casos não há sentimento genuíno. Se o amor ideal – aquele na medida certa, com a devida reciprocidade, atenção, carinho, respeito e compartilhamento – não está ao nosso alcance (pois está no mundo das ideias), o que fazemos então? O ideal é chegar a o nível 5 e 6 da escala do ciúme – mas como não conseguimos, o melhor a fazer é fugir dos extremos. Na escala de 1 a 4 – tente chegar a 4. Na escala de 7 a 10 – tente ser 7. Esses níveis são o melhor que podemos atingir com nossas imperfeições. Apenas no mundo sugerido por Platão as pessoas se amam e se valorizam sem precisar do ciúme, ou caso precisem dele, chegam aos níveis 5 e 6. No nosso mundo, precisamos dele para nos manter. Nós precisamos sentir as coisas – nesse sentido somos mais materialistas como Aristóteles e empíricos como David Hume. Precisamos de coisas concretas, tangíveis, para confiar no sentimento. Agora como confiar no sentimento de uma pessoa que não liga pra você? Como manter um sentimento por uma pessoa que te sufoca? No fundo ambos são muito parecidos. O indiferente é auto-sustentável, pois você não acrescenta nada demais na vida dele e por isso ele dá de ombros: se continuar bem e se acabar bem também. O possessivo é um egoísta. Não quer perder a qualquer custo não porque ele te ama, mas sim porque ele ama excessivamente a ele. Ele ama a idéia de vocês juntos porque você faz bem a ele e isso que importa. Ele não liga para o fato de que ele pode não fazer bem pra você – mas você é segundo plano. Tá, mas se o indiferente é auto-sustentável porque ele está com você? Apenas pelas aparências. Não é de bom tom não ter um parceiro na sociedade pós-industrial e pós-moderna. Você é apenas um adorno, a cereja do bolo – mas uma cereja de plástico – que só serve de enfeite e não se come (sic). Mas se o possessivo no fundo não te ama – pois ama a si mesmo, porque ele não se torna um Narciso? Justamente porque lhe falta a auto-sustentabilidade. O possessivo precisa de alguém para fazê-lo feliz porque é incapaz de sê-lo sozinho. Os seres humanos são muito capazes de assimilar conhecimento, não sabedoria. E como não aprendem a serem um pouco melhores do que são, acabam mudando de qualquer jeito. De tanto ouvirem reclamações e passarem por relações fracassadas, decidem mudar. O indiferente que antes não ligava vira possessivo. E o possessivo que antes ligava demais, para de ligar. O grande filósofo e imperador Marco Aurélio disse: “os homens foram feitos uns para os outros, suporta-os ou instrui-os”. Como os dois tipos são incapazes de entender – na maioria dos casos – e quando acham que entendem e mudam, apenas trocam de papeis, só resta à opção de suportar. Suportar é uma atitude difícil. Por quê? Suportar o fato de que a pessoa que você gosta não liga pra você é horrível. E suportar – e nesse caso aceitar – a dominação total e irrestrita do outro sobre você é tão horrível quanto. E a solução? Se é que tem uma, pode ser a seguinte. Detectar no começo do relacionamento indícios desse tipo de personalidade. E se a pessoa não demonstrar? Bom, há indícios diretos e há indícios indiretos. E é nos indiretos que está o segredo. Pequenas ações podem se tornar grandes – e são nas pedras pequenas que tropeçamos. Fique atento aos pequenos detalhes. E é importante que seja no começo do relacionamento porque quanto mais enraizado o hábito mas difícil de revertê-lo e quando mais a relação se aprofunda, mais difícil sair dela. E se eu não achar a minha pessoa ideal como eu fico? Encontre uma a seu alcance – deixando de idealizar a pessoa perfeita – e de preferência escolha (e se dedique) a alguém que tenha defeitos toleráveis – e nunca tente mudar ninguém – pois: “mudar pelos outros é mentir pra si mesmo”.



























“O sensação da posse que você sente em relação ao outro é uma ilusão. Pois na verdade é você que está possuído pelo desejo de possuir”.

Marlon Marques.




















Obs. O título faz referência a uma frase Leibniz.










3 comentários

  1. Gabsoliveira Says:
  2. Ameeei o textooo *--*

     
  3. Anônimo Says:
  4. Marlon, já está na hora de você criar uma nova coluna no blog para os seus textos sobre relacionamentos. Esse assunto anda muito frequente aqui na Caixa de Sapato.

     
  5. Anônimo Says:
  6. Não que isso seja ruim, é claro.

     

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