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Muricy Ramalho e a encruzilhada da ética e da moral.

Postado por Marlon Marques. 2 de janeiro de 2011

por Marlon Marques.


















Em sentido mais amplo, a ética é o ramo da filosofia que lida com os princípios e condutas consideradas universalmente como corretas. Se compararmos ética e moral, podemos distingui-las da seguinte forma: a ética é ampla e a moral restrita. A moral também diz respeito à conduta – porém a moral é variável e local, já a ética se propõe invariável – sendo uma coisa certa aqui e em qualquer lugar. Já a moral não, cada um tem a sua, cada comunidade tem a sua, cada vila, cada bairro, cada rua. No meio do futebol, é muito comum ouvir expressões como: “você não tem ética” – “você não agiu eticamente” – “você não tem moral para dizer”. O mundo do futebol por ser um mundo onde há muito dinheiro envolvido, ética e moral muitas vezes são consideradas secundárias ou desnecessárias. Não vivemos num mundo sós – somos cidadãos, vivemos em cidades, e essas, são habitadas por muitos indivíduos. Há um conflito claro entre indivíduo e cidadão, sendo esse último aquele que convive na cidade com outros dessa natureza. Conviver, implica muitas vezes em interferir na vida uns dos outros – já que como diz o ditado: seu espaço termina onde começa o meu. Então agir com ética, é também respeitar o outro – é em suma pensar no outro – mesmo que isso consista num confronto entre você e os outros. Houve um tempo em que um jogador atuava apenas por um único clube sua carreira inteira. Na época romântica do futebol, se jogava mais por amor do que por dinheiro – já que o futebol ainda não era uma atividade econômica de primeira grandeza como hoje. Com a mudança econômica a que futebol passou – os jogadores se profissionalizaram a tal ponto, que passaram a trocar de time de acordo com as melhores propostas financeiras. Esses jogadores são chamados de “mercenários”, “vendidos” – o mesmo acontecendo com técnicos de futebol. Não há nada de errado em sair de um clube para ir para outro por conta de uma proposta melhor – a questão é que muitos desses não cumprem os contratos. Os mais anárquicos podem dizer que os contratos foram feitos para não serem cumpridos – talvez – mas a questão é que isso envolve “palavra”. Com o egoísmo e a diluição da confiança, hoje a palavra de um homem não vale mais nada. E mesmo a palavra escrita, lavrada, registrada, hoje já não garante mais muita coisa. Compromisso é outra conduta em extinção no mundo moderno. Palavra e compromisso andam juntos – assim como andam com a ética e com a moral. Mas essa relação não é assim tão simples e fácil. O mundo de hoje é muito competitivo. As oportunidades são poucas – logo, a competição é grande. Há quem não veja problema em se conquistar as coisas levando vantagem sobre os outros – ou seja, para a moral particular isso é correto, mas será que é eticamente correto? Há quem prefira perder a levar vantagem – isso é moralmente bom e eticamente correto? O Brasil é tido como um país de malandros. Muitos aqui aceitam o “jeitinho”, a “ajudinha”, o “QI” e a “vantagem” e não vêem nisso nada errado. Nos acostumamos a isso e quando vemos alguém agir diferente disso, estranhamos, criticamos. Quem recebe o troco a mais do caixa e devolve? Devolver é coisa de “otário”. Isso é visto positivamente como esperteza – mas será? Muricy Ramalho é um cidadão como qualquer outro. Têm seus desejos, sonhos, ambições e pretensões profissionais como qualquer outro. Em julho de 2010 o técnico Muricy recebeu a proposta mais esperada de toda sua carreira – ser técnico da seleção brasileira. Mas ele não aceitou. Não aceitou porque se viu em um conflito muito complicado – sua palavra, seu compromisso de um lado, e de outro lado prestígio e realização. Concretizar seu sonho significava naquele momento romper com seu compromisso e mais, afetava outras pessoas. Muricy usou justamente essa justificativa, disse que o Fluminense e sua diretoria apostaram em seu trabalho e fizeram planos a médio e longo prazo, e não seria justo deixá-los na mão. Ou seja, Muricy se preocupou com o outro, mesmo que isso afetasse a si mesmo. Muricy é um homem de palavra, e quando diz que cumprirá o contrato, ele cumpre e nem mesmo uma proposta da seleção brasileira o faz recuar. Essa é a moral de Muricy. No meio do futebol poucos agem assim, porque agem como indivíduos e não como cidadãos – uma vez que colocam seus interesses em primeiro plano mesmo que isso afete negativamente outras pessoas. Esses, consideram essa conduta como moralmente boa – uma vez que a moral é variável e local, cada um estabelece a sua. Por conta da nossa mentalidade coletiva, muitos acharam que Muricy não agiu bem, perdeu uma grande oportunidade por conta de palavra e compromisso. Mas para ele não foi bem assim – preferiu ficar em paz com sua consciência, pois sabia que se tivesse ido para seleção teria deixado na mão um compromisso com o Fluminense, que apostou em seu trabalho e o valorizou. E é isso que devemos fazer, valorizar quem nos valoriza, agir bem com quem age bem conosco, pois a reciprocidade é uma ferramenta muito poderosa na durabilidade das relações humanas. Por isso, é necessário pensar bem antes de tomar qualquer decisão ou antes de qualquer ação – pois não estamos sozinhos, e a melhor maneira de termos nosso espaço, ideias e jeito respeitados, é respeitando o do outro, é tendo compromisso, e agindo de acordo com a nossa moral, mas como ela pode ser diferente da do outro – agindo com a Ética, pois essa se propõe universal e imutável.
















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