CAPPUCCINO

Humor, Esporte, Informação e Novidades

por Marlon Marques.




















A mídia quase que como um todo, vêm criticando a postura de Ronaldinho Gaúcho e de seu irmão Assis na condução das negociações de seu retorno ao Brasil. A palavra “leilão” vem sendo muito usada para tal transação. – Quem dá mais? E justamente essa máxima é que vem irritando a mídia e os fazedores de opinião. A alegação é que o craque – via seu empresário e irmão Assis, estão negociando simultaneamente com três clubes (Flamengo, Grêmio e Palmeiras) – quando para eles o certo é negociar com um clube de cada vez. Entretanto estamos falando de negócios, de capitalismo e de transações milionárias, não de filantropia. O capitalismo é selvagem, e sem escrúpulos – e isso não é novidade para ninguém. O que Assis está buscando é vantagem, sem porém fechar a porta em nenhum dos clubes. É uma lógica fria, sim é – mas é a vida real, a todo momento buscamos vantagens – dos melhores preços nos supermercados à garota mais bonita da escola, do melhor carro na agência ao melhor emprego nos classificados – ou seja, é algo natural do ser humano. Ronaldo Gaúcho é como ações na bolsa de valores – a medida que se nome é ressaltado, seu valor de mercado sobe – pois o mercado percebe que há interesse e quando há interesse, a parte interessada pagará o preço que for pedido. Assis não quis fechar o negócio com o primeiro clube que se interessou – se fosse assim, Gaúcho estaria no Palmeiras. E veja a lógica de mercado. O Palmeiras se interessou – o nome do jogador passou a circular na mídia, logo despertou interesse e entraram na disputa Grêmio, Flamengo e até o Corinthians. É claro que com tantos clubes interessados, o mais óbvio a fazer (pela lógica dos negócios) é ouvir todas as propostas e fechar com a mais vantajosa. A culpa foi dos clubes que supervalorizaram a mercadoria – que contribuíram pela elevação de seu valor – chegando a um patamar que alguns não podiam pagar. O Palmeiras foi o primeiro a sair do negócio (embora tenha voltado depois), restando apenas Grêmio e Flamengo. E é aqui que entra a questão do “paradoxo do público e privado”. Existe um “modus operandi” em casa e um na rua – uma forma de se comportar aqui e outra lá, uma linguagem, um jeito. E quando não se sabe separar bem os ambientes, os territórios e suas formas peculiares, as coisas – as relações, tendem a não darem certo. Na rua – onde as relações são informais, cabe um “e aí, beleza?” – já no trabalho não cabe, usa-se o “bom dia, como vai?”. A diretoria do Grêmio e sua torcida não souberam separar o público do privado. Pois não entenderam que a escolha de Ronaldo em ir para o Flamengo em nada tem haver com falta de amor ao Grêmio, mas sim com melhor oferta. Seu pai possui uma empresa modesta, com poucos clientes e nenhuma transação além do quarteirão onde se localiza. Ele então lhe oferece um emprego onde irá lhe pagar “X” por mês. No mesmo dia, uma multinacional com operações em pelo menos três continentes, várias filiais, oportunidade de carreira, benefícios, etc. – lhe oferece um emprego onde lhe pagará quatro “X” por mês. Para onde você vai? Nas relações profissionais é necessário não envolver as emoções, o coração, sim a razão. E principalmente é necessário amadurecimento da outra parte em não se magoar ou agir com vingança por ter sido preterida. Ronaldo Gaúcho ama o Grêmio, Ronaldo fenômeno amo o Flamengo – porém suas escolhas profissionais foram outras – porque souberam separar razão de emoção. Assis não deu nem “sim” e nem “não” ao Grêmio, apenas deixou em aberto a negociação, e o anúncio da contratação foi uma precipitação do presidente gremista. Odone apostou na emoção – acreditando que o amor de Ronaldinho o faria jogar no Grêmio mesmo com uma proposta inferior. Errou. Se cobramos tanto um nível mais profissional do futebol, porque criticamos a atitude de Ronaldo e Assis? Ronaldinho foi acusado de traidor, de mercenário, de oportunista – só porque aceitou uma melhor proposta de trabalho. Então significa que só porque entrei no supermercado “Y” para comprar um produto eu devo comprar nele mesmo com o preço mais alto? Democracia é o direto de escolher. Só porque a proposta do Palmeiras foi a primeira o Ronaldinho tinha que aceitar – mesmo recebendo melhores propostas? E outra, todos os que criticaram essa atitude com quase toda certeza não fazem diferente em suas vidas – criticam para serem “éticos”, para serem “politicamente corretos” – dependendo do lado do muro em que se está. Problemas de público e privado são comuns em países como o Brasil – por conta da informalidade, da falta de seriedade e do excesso de emoção nas relações. Exigimos dos outros mas não fazemos – cobramos a aplicação da lei para o outro, mas para nós optamos pelo “jeitinho”. O Grêmio não estaria ferido caso Ronaldinho tivesse ido para lá – mesmo com todo leilão. Logo, o problema não foi o leilão, mas sim o resultado dele – é óbvio que quem perde sempre reclama – brasileiro não sabe perder também. Então, confundir público com privado, pode trazer conseqüências ruins – distorções, inversões e traumas, porém – aqui nos trópicos, acho muito difícil que uma mudança ocorra, uma vez que ninguém consegue dar um passo inicial – afinal, porque eu tenho que jogar o lixo no cesto se ninguém joga.






































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