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A violência das torcidas te espanta?

Postado por Marlon Marques. 6 de fevereiro de 2011

por Marlon Marques.

















“A violência é tão fascinante, e nossas vidas são tão normais”.

Renato Russo.


Torcer não significa apenas apoiar. Torcer também é cobrar. O futebol tendo se tornado uma das atividades econômicas mais importantes das ultimas décadas, uma partida de futebol é um produto consumido por milhares de pessoas. Quando você compra um produto e esse apresenta defeito, o que você faz como consumidor? Troca, cobra ou pede ressarcimento. O torcedor é um consumidor – e o futebol é um produto, então, quando o time não corresponde em campo – ou você pede a troca de algumas peças do time ou você cobra mais empenho, o ressarcimento nesse caso é inviável. Cobrar é um direito do torcedor – pois muito embora o seu dinheiro não pague o salário dos jogadores, esse ajuda o clube em outros aspectos e é o clube que paga os jogadores (na maioria dos casos). O futebol é um esporte que mexe muito com as emoções. Por oposição, emoção é o contrário da razão. Logo, há mais emoção do que razão nos torcedores de uma maneira geral. As torcidas são massas de torcedores – hordas em muitos casos, e como o futebol é um espelho da vida, não podemos cobrar racionalidade do torcedor se ele não é racional em sua vida. É claro, não digo isso de todos os torcedores, mas sim da massa. Faltar no emprego para ir a um jogo de futebol é uma atitude racional? Claro que não, mas o torcedor comum faz isso. O torcedor comum é aquele passional, emocional – platônico, a dizer, idealista. Já o torcedor incomum é o racional – que respeita o limite existente entre o entretenimento e a vida, esse é mais cartesiano, a dizer racional. As massas são movidas pelas paixões. Um exemplo histórico é a Revolução Francesa. A revolução só foi possível pela combinação entre emoção e razão. A emoção é a massa, o povo – que pegou em armas, matou, morreu, foi às ruas. A razão são os líderes da revolução, os ideólogos, os intelectuais, mas que não deram a vida pela causa. O paradoxo serve para dizer que o torcedor racional não age por impulso – por exemplo, um palmeirense racional não vai agredir uma pessoa apenas porque ela está vestida com uma camisa branca e preta (analogia ao Corinthians). Já o torcedor emocional não – é só lembrarmos do caso dos irmão, um corintiano e o outro palmeirense – num domingo de clássico entre os dois times, o Palmeiras venceu, o irmão palmeirense tirou sarro do irmão corintiano, e esse então matou seu irmão. Ele fez isso porque é movido pela paixão. Os estóicos nos ensinam a viver com temperança – nos se deixando dominar pelas paixões do mundo. A violência é a expressão máxima da falta de controle do espírito. Os torcedores não estão presos de costas na caverna vendo apenas os vultos da realidade – mas estão acorrentados no chão olhando para o mundo das ideias. O que eles querem afinal? O discurso oficial da torcida não é o de que o time precisa vencer sempre, mas sim lutar sempre. Fenomenologicamente, a partida entre Corinthians e Tolima já causaria apreensão ao torcedor (ou seja, a partida em si, qualquer partida) – adicione a isso o fato de que vale uma vaga na fase de grupos da Libertadores, os problemas cotidianos, o nervosismo intrínseco, etc. O torcedor já a mil por hora, explode de vez ao ver em campo apatia. Os jogos são fenômenos vibrantes e exigem vibração por parte de quem está inserido. Quando isso falta, atinge em cheio o coração apaixonado do torcedor comum, que vê na violência um modo de descarregar seus sentimentos. Não se trata de “vencer ou morrer” – sim de uma certa “lei de reciprocidade” – onde a dedicação da torcida deve ser retribuída pela dedicação dos jogadores em campo (ganhando ou perdendo). A violência segundo algumas teorias, é uma reação newtoniana (natural) da sociedade contra o Estado. O estado que deveria ser o provedor da sociedade, a trata com violência – lembrem-se de Webber: “o Estado detém o monopólio do uso legitimo da força” – justamente porque o abuso do poder advém da ausência da racionalidade. A terceira lei de Newton começa dizendo que, “a toda ação há sempre uma reação” – e a violência é a reação a ação do estado. Porém essa fórmula se estende a toda ação contra o objeto. A torcida ao ser atingida, reage, e como é movida pela paixão, vê na violência a maneira ideal de reagir. Não é de se admirar essa violência. É ruim admitir, mas a violência é muitas vezes a maneira mais eficaz de resolver os problemas da vida. Como eu disse, é ruim admitir. O Brasil é o país da impunidade – logo, nesse vácuo a justiça com as próprias mãos ganha corpo na resolução dos problemas. O futebol é só um jogo – não há necessidade desses extremos, mas o próprio universo do futebol e os clubes incentivam isso. O Corinthians (clube) adota e incentiva campanhas como “loucos por ti Corinthians” – “segunda pele”, o Flamengo, “nação rubro-negra” – o Grêmio, “nada pode ser maior”. Os clubes próprios incentivam a entrega e os sentimentos extremados dos torcedores – mas depois se espantam com suas atitudes. O que acontece? – o time não rende em campo, os jogadores não se empenham, o clube não toma nenhuma providência (impunidade) – e isso provoca no torcedor o efeito reação. É claro que não justifica, mas o que esperar de um processo educacional que não prepara o espírito do homem, de um Estado que não provê, de uma situação existencial desesperadora – o que esperar, racionalidade? Embora eu não concorde com a violência, não me espanto com ela – pois sei que ela é parte da sociedade, e não há o que fazermos para contê-la. Pois enquanto a minoria que nos comanda não racionalizar seu modus operandi – continuaremos a nos fascinar – como disse Jean Paul Sartre: “a violência faz-se passar sempre por uma contra-violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia”.










































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