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Adriano e a felicidade.

Postado por Marlon Marques. 2 de abril de 2011

por Marlon Marques.

















Se enquadrássemos a felicidade numa equação, e estabelecêssemos critérios para defini-la, o jogador Adriano com certeza seria se não uma pessoa feliz, pelo menos muito próxima disso. Mas o fato é que ele não é feliz. Vamos aos outros fatos – Adriano é: milionário (supressão total de todas as suas necessidades materiais) – ainda nesse quesito, possui grandes imóveis, automóveis, pode viajar para qualquer lugar do mundo e ter os eletrônicos que quiser. Ele é ainda: famoso, desejado por muitas mulheres lindas (por interesse ou não), ao que parece saudável (já que ele é “atleta”), têm futuro garantido, pode pagar a melhor educação que quiser (para si e para os seus), a melhor segurança, plano de saúde, lazer, vestuário, alimentação e tudo o mais. Agora junte tudo isso (tire apenas o ser jogador de futebol e substitua por sua profissional desejada) e no lugar dele ponha você. Você seria feliz com tudo isso? Se sua resposta é sim, ótimo, mas Adriano não é feliz. O que falta para Adriano se ele têm tudo? Mas será que isso é realmente tudo? A primeira consideração que devemos fazer é: cada indivíduo têm sua concepção de tudo e de felicidade – portanto, cada um é feliz de um jeito. Segundo Epicuro, o que falta a Adriano é estabilidade, não financeira, mas emocional – do qual ele só atingirá quando descobrir o que exatamente lhe traz prazer (o supremo bem de Epicuro) e não eliminar a dor, como diz esse filósofo, mas sim aceitar que a dor existe e aprender a conviver com isso (Zenão de Cicío – Estoicismo). Conviver com o quê? Várias coisas! Sendo profissional e estando sujeito a morar longe do Rio de Janeiro (mudança de time) e não podendo estar sempre com a família, é preciso se adaptar. Por ser um grande jogador e jogar sempre em alto nível, é preciso entender que as críticas viram quando não jogar bem – isso é normal. E principalmente a perda do pai. Não é fácil perder pessoas queridas. Mas perde-las é inevitável, é o ciclo da vida. Sêneca escreveu um belo trato chamado “Sobre a brevidade da vida” – mostrando que é preciso aceitar isso para começarmos a viver melhor. “Aceitar” é uma palavra difícil de introjetar-mos. Não sabemos aceitar porque vivemos num mundo onde tudo deve ser perfeito – e quando algo saí errado ou fora do nosso padrão, não sabemos lidar. Se Adriano fosse um imperador estóico com foi Marco Aurélio (imperador e filósofo) – saberia que o caminho para a felicidade (para os estóicos) é o controle de suas paixões. Os excessos do craque só lhe trouxeram malefícios – pois os benefícios que trazem, são momentâneos. Álcool, cigarros, drogas (não no caso dele), consumo excessivo, luxúria, baladas constantes, trazem apenas momentos de prazer, mas quando isso passa, o vazio que fica é imenso. Veja, Adriano não consegue esquecer a dor da perda do pai com isso. Logo, percebemos o quão ineficiente tudo isso é (e o quão destrutivo é também na mesma medida). Sobre isso disse Epicuro: “Nenhum prazer é um mal em si, porém certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres”. A propaganda da rede de supermercados Pão de Açúcar diz em uma de suas chamadas: “o quê faz você feliz?” É essa a pergunta que alguém (ou ele mesmo) precisa fazer a Adriano. Claro que não será garantia de nada – muito menos de felicidade, aliás, não se pode ser feliz o tempo todo. Quando ele (e nós) aprender que o ideal é ser feliz a maior parte do tempo (já que não dá o tempo todo) e que no restante do tempo não se afundar nos problemas, se será mais feliz do que infeliz. Isso é uma vida equilibrada, é a aceitar o sofrimento, aceitar que ele existe – mas não se afundar por causa dele (estoicismo) e não ver o futuro com medo, aprender com os erros e fazer aquilo que gosta (epicurismo). “Evitar” também é outra palavra-chave. Evitar – repetir os erros, evitar os excessos, evitar as ilusões de felicidade fácil, evitar problemas (já que o Adriano chama os problemas): “Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças”, disse Sêneca. Muitos atribuem a infelicidade de Adriano a perda de seu pai. Adriano precisa entender que seu pai – por ser pai, quer o melhor para o filho, logo o pai de Adriano quer o melhor para ele. Então a melhor maneira de Adriano agradar seu pai e dar a ele alegrias (mesmo post mortem) é levando uma vida mais regrada e buscando a felicidade. Tal procedência, passa necessariamente pela prudência. Ser prudente é ser cauteloso com as coisas, é medir melhor os atos e principalmente as conseqüências (coisa que ele não faz), é “evitar” as coisas que causem danos (a si e aos outros) – e isso é essencial para uma vida feliz porque: “a prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar”, disse André Comte-Sponville. Adriano não sabe “medir” as coisas, como na canção “O velho e o moço” dos Los Hermanos: “sei do escândalo, e eles têm razão, quando vem dizer que eu não sei medir, nem tempo e nem medo”. Adriano precisa “parar” e “refletir” (outras duas palavras difíceis), e precisa justamente da mais difícil de todas essas palavras: “aprender”. É preciso aprender a viver nesse mundo de aparências, pois ele mesmo já viu o quanto à realidade é cruel, porém ainda há tempo para começar a pôr em prática todas essas lições – que as vezes aprendemos em casa de modo suave, mas as vezes aprender na rua de modo duro – mas não aprender de nenhuma forma é um passaporte certo para infelicidade. P.S. – Nas fotos respectivamente, Sêneca (4 a.c. – 65 d.c.) e Epicuro (341 a.c. – 270 a.c.).





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