CAPPUCCINO

Humor, Esporte, Informação e Novidades

Errare Humanum Est.

Postado por Marlon Marques. 17 de julho de 2011

por Marlon Marques.





















Na fábula “A raposa e as uvas” do enigmático Esopo, fica muito evidente a lição de que sempre tendemos a desdenhar algo que não conseguimos conquistar – tal qual fez a raposa ao chamar as uvas de verdes por não ter conseguido alcançá-las. A perfeição é como uma cenoura na ponta de uma vara amarrada às costas – sempre estará a nossa frente e nunca conseguiremos atingi-la. O ser humano busca a perfeição, e como dito em outros textos, torna-se infeliz ao simplesmente achar que poderá alcançá-la. Um dos pontos para tal busca (atenção, é apenas uma busca, e nessa busca vamos melhorando, porém sem nunca atingir de fato a perfeição), é o reconhecimento dos nossos erros. Pra começar, tudo parte (sic) da significação. Demócrito disse que “não importa a palavra que use, o que importa é o sentido que você dê a ela”, ou seja, temos o poder de subverter os significados. Erro por exemplo – você pode simplesmente dar uma conotação puramente negativa, porém se você também quiser, pode enquadrá-lo como essencial para o aprendizado. No futebol a equação “tentativa, acerto e erro” é muito visível, pois estatisticamente, é preciso dar em média 10 chutes a gol para acertar 1. Ou seja, de quantos erros é preciso para se obter um acerto? (9/1). Errar faz parte. A escola também têm um papel fundamental na transformação da nossa significação (e percepção) do erro. Ao invés de apenas punir o aluno quando esse não atinge uma nota ou quando erra um exercício, porque não dar a ele uma nova chance de acertar, mostrando a ele que o erro faz parte da construção do acerto?Porque os jogadores treinam? Porque nos treinos você pode errar a vontade, mas com objetivo de construir os acertos. Porém o erro (literal) do aluno é quando não admite, e principalmente quando se justifica no outro. Exemplo: – “há eu fui mal, mas fulano também foi”. Hoje a seleção brasileira nos deu uma boa lição sobre isso. Nas cobranças de pênaltis contra o Paraguai, os jogadores brasileiros erraram todas as cobranças. É claro que antes do jogo começar, todos nós notamos as condições ruins do gramado. Aí vêm a análise dos fatos: primeiro, o gramado estava ruim para os dois lados. Embora o Brasil fosse (e é) melhor tecnicamente do que o Paraguai e o gramado ruim tenha dificultado o tipo de jogo do Brasil, é fato que os paraguaios também tocam a bola, chutam a gol, driblam, etc. – inferiormente ao Brasil, sim, porém também o fazem. Ficou nítido (e depois disseram em comentários) que a desculpa pelos erros foi o gramado. Elano errou a primeira cobrança – o que ele fez? Olhou o chão e se irritou com o gramado. É óbvio, todos vimos que ao chutar a bola, o pé levantava tufos de grama e areia – fisicamente falando, pode-se dizer que o campo não permitia nessas condições aderência ao chute, mas enfim. André Santos ao errar a terceira cobrança também olhou para a marca do pênalti. E Fred também o fez, após olhar a bola sair atônito. Porém no mesmo campo, nas mesmas condições, na mesma marca de pênalti, os paraguaios acertaram duas cobranças que lhes garantiram a classificação. Porque ao invés de pôr a culpa no gramado ruim o jogadores brasileiros não admitem a culpa e seus erros? Justamente porque é mais fácil desdenhar daquilo que não conseguimos. Lembra-se da raposa da fábula de Esopo? Você passa a festa inteira paquerando uma garota. Aí no fim da festa um amigo lhe pergunta se você conseguiu ficar com ela. Aí você diz que não – aí ele pergunta porquê, e você diz que não fazia muito o seu tipo. Quando se admite um erro ou uma incapacidade, abre-se espaço para começar a superá-la. “Só sei que nada sei” disse Sócrates (ou atribui-se a ele) – com isso, admitia que estava em busca, e não que já o era um sábio como outros. Admitir, eis o primeiro passo. O segundo passo, treinar. Só com treino é que as imperfeições são corrigidas. Terceiro passo, entender que nem todas as imperfeições serão corrigidas. O celebre Abraham Lincoln disse: “antes de começar a criticar os defeitos dos outros, enumere ao menos dez dos teus” – ou seja, defeitos temos muitos, mais até do que dez, faça uma lista e começa a corrigir aqueles que mais lhe trazem problemas. Quarto passo: ter maturidade para ouvir. Como assim? O verdadeiro amigo não é aquele que só te elogia: “prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem” (Santo Agostinho), ou seja, se você souber ouvir as críticas (no sentido original de observação), poderá tirar delas grandes lições, como ensinou Sócrates: “transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada”. O caminho da seleção brasileira é admitir sua incapacidade de ganhar do Paraguai nos pênaltis, assumir os erros e recomeçar. Embora seja padrão entre os jogadores dizer que é preciso “trabalhar”, o clichê é válido, porque é preciso trabalhar, treinar, para tornar-se melhor. Eu disse, “tornar-se melhor” e não “tornar-se perfeito”. É claro, a vida não é um manual de instruções, mas o papel da filosofia é ser um guia prático para nos ajudar a viver melhor (é preciso saber viver, Roberto Carlos). Há um trecho da música “Somos quem podemos ser” do Engenheiros do Hawaii que diz: “quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também, quem duvida da vida tem culpa, quem evita a dúvida também tem” – “quem evita a dúvida” – se omitir frente aos erros, e se omitir frente ao aprendizado são os piores erros, pois como disse o grande poeta Virgílio: “a sorte ajuda os audazes”.

















































0 comentários

Postar um comentário

Seguidores

Twitter