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Insônia

Postado por Valéria Rezende 5 de janeiro de 2012

Por Valeria Rezende

Hoje ele não dormiu outra vez. E isso soa tão comum que seria dádiva perfeita se ele tivesse o feito.
Seus olhos verdes profundos situam-se numa desesperança mal disfarçada. Seu sorriso em tons amarelados revelam uma alegria meio amarga da vida.
Entre suas caixas sempre bem trancadas de forma tal a acumular molhos de chaves, devem estar guardados imensos segredos ou explicações válidas para a sua realidade cinzenta.
Não que exista um motivo válido que compre sua amargura, mas deve haver uma pedrinha que o fez cair nessas mentiras e fracassos.
A vida é uma história doce que precisa ser levada aos poucos, um ritmo tranquilo que fica acordando a gente. É preciso despertar. Senão acabamos em desvaneios contrários, imersos em rios escuros, cheios do nada dentro de nós.

Perde-se o sentido.
Seu caminhar é tranquilo e sem pressa, seus passos lentinhos e cabeça baixa passam despercebidos. As vezes dá pra notar seus olhos em tom mais transparente, como se houvesse uma muralha d'água sobre eles, mas ela nunca caiu.
Os verbos sempre são notavelmente sombrios e frustados. As frases nunca são longas. Os momentos sempre de profundo desespero.
O dia inicia-se numa sensação engajada de desesperança e sem sentimento algum de um novo nascer do sol. As noites transformaram-se em pesadelos abstraídos de um lugar qualquer.
O relógio parece fazer estadia a cada segundo e o barulho habita em seus ouvidos num tom agudo perturbador. As janelas já fechadas parecem bater contra o vento, o quarto escuro e frio parece girar nos seus pensamentos. 
A casa toda repousa num sono íntimo e tranquilo. E isso lhe dá um medo dobrado e covarde sobre aquilo que está vivendo. Numa atitude impulsiva, coloca seu braço sobre as paredes, bate bem forte, ao ponto de fazer doer. Muda o tom de voz para choramingos, coloca-se de pé com as mãos sobre a cabeça. Olha para os lados e não vê ninguém. É uma solidão enfurecida. Não porque não tenha pessoas, mas porque sente-se fora delas, fora dali.

Sente-se em um lugar qualquer...
Os gritos entoados em palavras de entrega. Os desejos covardes que querem lhe tirar a vida.
Todos na casa estão ouvindo.
Na porta do armário dezenas de comprimidos, que não têm efeito algum, mas toma-os numa fé cética, num alívio para desencargos. 
Seus dias são infelizes e baseiam-se em sobrevivência. Quase como um ritual certeiro que nunca sai da linha. Novidades nunca existem. Motivações se perderam. Só o tempo pode dizer aonde as perdeu.
Aonde se perdeu.
Os sonhos são como combustível para continuarmos a vida e mais do que isso, a desejá-la. Quando tudo está imensamente igual, precisamos de um novo sonho, de um novo motivo, para seguir viagem.
Quando viajamos sem saber pra onde vamos, tudo se esvairia. Tudo perde o sentido absoluto. E é esse o confronto final.
Hoje o dia amanheceu cálido e um descontentamento foi tomando o lugar de todas as coisas.
O verão se fragmentou em dias vazios, quase chegando em neve fria e cores acinzentadas pintavam o céu.  A palidez do rosto e dos desenhos. O perigo tão presente em pensamentos.
Coisas profundas demais e complexas doutra alma.




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