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O pântano da linguagem – ou um ensaio muito mal escrito.

Postado por Marlon Marques. 12 de abril de 2012


por Marlon Marques.
















Certa vez um aluno me perguntou qual das respostas estava certa. Eu de pronto retruquei: qual é a pergunta? A conclusão que se tira disso é que sem se entender a pergunta não se chega na resposta. Eu já disse há muito tempo atrás que o grande problema da humanidade é a comunicação. Gente que não sabe falar e gente que não sabe ouvir. Gente que não sabe perguntar e gente que não sabe responder. A linguagem é muito escorregadia e é necessário se ter cuidado. Essa frase poderia ser de Wittgenstein caso não fosse tão óbvia e simples. Embora não seja, não deixa de expressar uma verdade. Sem entender a linguagem e o conjunto de sentidos, nada pode ser compreendido plenamente. Não que devamos compreender as coisas plenamente, mas... Bom, comecemos então com uma consideração sobre o sentido das palavras.

O termo “Metafísica” surge de uma forma muito banal. Wittgenstein dizia que a filosofia só se torna obscura e pomposa porque os filósofos é que usam uma linguagem complexa. Veja como soa bonito: “discussões acerca das questões metafísicas e ontológicas do mundo”. Antes de metafísica ter um sentido “metafísico”, essa palavra não passava de junção de duas outras: meta + física. Andronico de Rodes, ao organizar as obras de Aristóteles após sua morte, deparou-se com um conjunto de escritos sem nome. Então em sua organização, o posicionou depois do tratado de física. Aí é que entra o detalhe. Em grego, a palavra “meta” significa duas coisas: “depois” e “além”. A questão é: “depois” e “além” significam a mesma coisa? Não! A palavra depois dá uma conotação de posição no espaço – tipo, a segunda-feira vêm depois do domingo – numa seqüência. Já a palavra “além” nos dá um sentido de superação, de ir mais longe – tipo, esse livro foi além das minhas expectativas. Veja como de uma língua para outra as palavras adquirem significações diferentes. Com o passar do tempo, “Metafísica” passou a significar a área do conhecimento filosófico que vai além do mundo físico, do mundo material – das coisas que podemos tocar.

















Estava eu certo dia no ponto de ônibus em frente a um açougue. Atento como sempre, fiquei reparando nas placas do estabelecimento e parei numa placa anunciando o preço do “contra-filé”. Aí eu pensei:

“Se sou contra tudo – então isso significa que não posso comer contra-filé – pois logo sou contra filés?”

Isso é um paradoxo. Ou dependendo do ponto de vista pode ser uma idiotice também. Veja. Analisando de forma rápida você pode considerar essa questão válida. Mas se parar para pensar e usar a filosofia da linguagem irá perceber que há um erro aí – se for ao oftalmologista irá perceber que há erro em tudo, inclusive em seu corpo. Assim como a palavra “meta”, a palavra “contra” possui diversos significados. Essa “contra” de “contra-filé” quer dizer o seguinte: em bovinos, na parte traseira, encontra-se o filé em seus diversos tipos (mignon, capa de e de costela) – todos são filés. Do outro lado – ou seja na direção oposta, encontra-se o contra-filé (nesse caso o contra significa em direção oposta). Esse contra não é de “contestação”, de “negação”, sim de direção oposta. Essa questão está errada. Agora se você não gosta de filés (em seus vários tipos acima citados) por seus motivos e alguém lhe perguntar: o que você têm contra o filé? – e você expuser seus motivos, aí sim você será contra o filé e isso em nada tem haver com o contra-filé que caso não tivesse sido inventado por um filósofo poderia poupar-nos dessa confusão caso se chamasse simplesmente “parte oposta ao filé”. Bem mais simples né?



























Outro paradoxo.

Se você quer acordar às 7h da manhã e para isso você programa o seu despertador para tocar às 7h da manhã e você acorda sozinho às 7h da manhã – sua programação deu certo ou errado?

Então! Eu acho que sua programação deu certo sim, embora você não tenha precisado do despertador. (Agradeça a sua ansiedade que foi quem te acordou). “Sua” programação deu certo porque você atingiu sua finalidade – Aristóteles iria dizer que você atingiu seu telos – que era acordar as 7h da manhã. A programação que você fez no despertador pode não ter dado certo, mas a sua programação (finalidade ou telos) deu. Afinal o que você queria – acordar às 7h da manhã ou se acordado às 7h da manhã pelo despertador? Claro que acordar às 7h da manhã independentemente de como. Mas se o sujeito aí tivesse sido acordado pelo despertador? Então sua programação teria dado certo e a programação que você fez no despertador também. Bom, acho que deu pra entender né?

Olha como a linguagem pode ser realmente escorregadia – e isso independe se quem disse isso foi Wittgenstein ou um bêbado qualquer.

Um homem diz no metrô a seguinte frase: ei, você passou sua língua na minha boca! Uma velha se espanta e exclama: que pouca vergonha! O home retruca de volta para a velha: mas a senhora não entendeu e não deixou eu explicar direito. Eu ia dizer que ele passou a língua do tênis dele na boca da minha calça e sujou, só isso. A velha disse: e porque você não disse isso logo? O homem: é porque eu estou economizando palavras!



























Mas às vezes é até bom economizar nas palavras – porque ao invés de você dizer que “algo não está dentro dos padrões aceitáveis por sua natureza distinta” você não diz logo que algo está uma “merda” – você economizaria tempo e palavras e seria muito mais facilmente compreendido. Tá vendo, Wittgenstein tinha razão: o problema do mundo está na comunicação e na linguagem. Mas quem disse que foi ele quem disse isso? Há – vá a merda!






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2 comentários

  1. Gabsoliveira Says:
  2. Falta de Interpretação das pessoas, é o que mais ocorre..

     
  3. Concordo com o comentário acima, mas também acho que isso de economizar palavras, em alguns casos, gera a famosa "falta de interpretação", a qual realmente é "interpretação ou 'impressão' errada".

     

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