por Marlon Marques.
Costumo sempre
dizer que as melhores coisas da vida são inesperadas. Porém, refletindo melhor
sobre essa frase, logo milhares de interrogações vêem a mente. E por quê? Kant
em sua Crítica da Razão Pura, elaborou quatro questões que considerou fundamentais
na filosofia – uma delas é “O que podemos esperar”. Essa espera enquadra-se
dentro da metafísica. O que devo esperar de mim, do mundo, das pessoas, etc.
Dentro disso encontra-se a velha questão de livre-arbítrio vesus destino. Quem comanda as ações – nós ou alguma força
extra-humana – a qual chamamos de Deus ou não? Ao dizer que as melhores coisas
da vida são inesperadas, tiro do homem todo o mérito por qualquer coisa boa que
lhe aconteça. Opostamente, ao atribuir tudo ao homem, também o responsabilizo
por todas as coisas ruins. Realmente, é um grande dilema. Kant diz que todas as
afirmações que podemos fazer se enquadram (e se fundem) em duas categorias:
afirmações analíticas e sintéticas. Analíticas – aquelas que são verdadeiras
por definição – ou seja, não me trazem dados novos sobre um determinado tipo de
coisa, exemplo: todos os cachorros são mamíferos. Sintéticas – aquelas que me
fornecem dados novos sobre um determinado número de coisas num conjunto,
exemplo: alguns cachorros são vesgos. Porque eu disse isso? Disse para informar
que para alguns assuntos é possível e para alguns casos é menos arriscado fazer
afirmações analíticas. Sobre as coisas do amor por exemplo – embora não
tenhamos certeza – é mais coerente dizer que para as coisas do amor o melhor é
deixar o destino cuidar (afirmação analítica). Para isso usaremos três palavras e suas respectivas, distintas
e sutis definições. “Buscar” – “Procurar” – “Encontrar”. Quando se emprega o
termo buscar, o que me vem à mente é que esse algo que se quer já se sabe onde
está e o sujeito somente vai até lá e busca. Por isso eu acho falsa a frase: “vá
em busca de sua felicidade” – como se soubéssemos onde ela está. A busca só faz
sentido à medida que se sabe onde o objeto está. No caso do amor – onde ele está? O amor pode estar em qualquer lugar – no mais óbvio dos lugares até no
menos provável deles. Nisso de que o amor pode estar em qualquer lugar, caí-se na
procura. O procurar é um labirinto. É possível que encontre a saída, mas é mais
possível ainda que se perca para sempre.
Na maioria das vezes, aqueles que procuram
o amor nunca o acham. Outra frase suspeita é: “você está procurando nos lugares
errados” – existem lugar certo e lugar errado para procurar o amor? O errado é até razoável
de se especular, mas o lugar certo heim? Freqüentemente dizer que baladas,
chats e redes sociais são os lugares mais errados para se procurar alguém –
porém são os mais visitados para esses fins. 1% das pessoas que freqüentam baladas
estão afim de alguma coisa séria – pois se pressupõe que se estão lá é porque
querem se divertir apenas, nada de compromisso. Chats são um convite a mentira
e a supervalorização da persona. As redes sociais só mostram o lado positivo
das pessoas. Nesse lugares o que se acha com facilidade é paixão e desejo – e isso
não é amor. Muitas vezes a procura induz ao erro. De tanto procurar sem achar
algo – por vezes se acaba optando por qualquer coisa ou forçando o sentimento.
Você acha uma pessoa e tenta fazer dela o seu amor. Tenta moldá-la de acordo
com as características de sua idealização – e o resultado é quase sempre – se não
sempre, desastroso. O encontrar é diferente. O encontrar está intimamente
ligado ao acaso, ao inesperado. Isso se liga com a frase do começo. É preciso
que a coisa simplesmente aconteça – naturalmente, não forçosamente. Geralmente
é assim – quando se espera algo – cria-se expectativa advinda da idealização – e
a não supuração ou supressão dessa expectativa, gera frustração. Quando não se
espera, não se têm um parâmetro (pela falta de idealização) – e então é comum
se contentar com o que se obtém – da forma que vier. Ter um filho é um bom
exemplo. Quando um filho vai nascer e se quer muito um menino e nasce uma
menina – de certa forma a expectativa criada foi frustrada. Agora quando o sexo do bebê é o menos importante – a tendência é amá-lo da forma como vier. O amor
funciona assim. É preciso não criar expectativa, é preciso não idealizar, criar
um modelo, mas sim se adaptar ao que aparecer. Isso está muito longe de querer
qualquer coisa ou se adaptar a tudo. O mito do andrógino ajuda-nos a entender
melhor isso. No princípio, os deuses criaram seres chamados "androgynos", que possuíam
num corpo único uma metade masculina e uma metade feminina.
Como os androgynos
não estavam agradando os deuses – e como os deuses gregos eram vingativos – decidiram
por separá-lo em uma metade feminina e uma metade masculina – colocando-os em
partes do mundo aleatórias. Como suas almas eram ligadas, Andros (masculino)
era atraído por Gynos (feminino) e vice-versa. Por conta disso, suas missões
são voltarem a ser um único ser (almas gêmeas). Como estão em lugares
desconhecidos por ambos – embora saibam que existam – erram por tentarem buscar
ou procurar um ao outro. Como buscar algo que não se sabe onde está? Como
procurar? Por isso é preciso encontrar apenas – deixar que o destino se
encarregue de colocá-los no mesmo caminho. A ação humana nesses casos tende a
dar vazão a pistas falsas – o desespero o faz ficar com qualquer pessoa, a
querer transformá-la e a querer enxergar a alma gêmea em qualquer pessoa.
Encontrar é sem intenção, é totalmente inesperado. E quanto menos expectativa,
mais verdade – pelo menos é a tendência. Por isso, caso esteja sozinho, nunca
tente buscar em alguém algo que queira muito – pode ser que essa pessoa não
tenha (ela pode até se esforçar para ter – mas não terá) – pois dificilmente terá êxito. Aristóteles diz que
possuímos características essenciais e acidentais – ou seja, parecemos assim
(como parecemos ‘sic’) por acidente – nada que uma plástica não nos mude (a aparência), agora
o que somos (nós somos ‘sic’), nossa essência, é diferente (somos assim de fato). Pessoas que forçam
ser algo que não são, não se sustentam por muito tempo – e isso é o que a busca
nos proporciona. A procura também é um caminho errado, é o caminho do
desespero. O desespero não cega, faz pior, faz você optar sabendo (que a pessoa não é). Como diz o
ditado – aquele que procura acha, mas aquele que encontra têm.
“O amor
verdadeiro não está em lugar nenhum, mas está em alguns lugares. A busca do
amor é vã. A sua procurara é inútil. O encontro do amor é o mais próximo que se
pode chegar da perfeição – pois quem encontra têm, e quem têm é porque
encontrou, ou foi encontrado por ele, ou melhor escolhido”.
Marlon Marques.
Faz tempo que não te vejo ou falo com vc..mas a admiração por suas palavras continua a mesma de antes!