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- Das Relações (Conto)

Postado por Valéria Rezende 27 de janeiro de 2011

 Por Valéria Rezende
 
 
Meus braços soltam leves arrepios e meus pés gelam sob o ar frio de uma noite. Enquanto no relógio são 23 horas e os quartos estão ocupados, decidi ficar mesmo. Sr Freldman já ligou a tv, assiste um documentário ou até mesmo uma novela. Falou comigo agora pouco, perguntou qual é o meu problema. Eu não respondi, ele nem se importou. Preparou-se para deitar e pediu para que quando eu fosse dormir trancasse a porta.
Ele sempre fala as mesmas coisas. Sempre se importa com as coisas desinteressantes. E quase não conversa comigo. Antigamente éramos mais próximos, nem que fosse para companhia de supermercado. Nos falamos de forma convencional e de necessidade, demasiadamente rotineiro.
Gosto de ficar no quintal de casa. Aqui sinto-me livre. Apesar do frio, o silêncio me aconchega e sei que aqui posso ficar mais a vontade. Ouço o trabalhar dos ponteiros do relógio enquanto escrevo e isso é trilha sonora perfeita para essa noite. Esses relógios baratos que despertam são muito úteis, principalmente para a Sra Freldman que acorda daqui 4 ou 5 horas, pobrezinha. Ela já dorme. E falar disso para ela é tarefa fácil, ao recostar-se na cama nem precisa de carneirinhos ou coisa assim. Ultimamente ela tem me esquecido. Anda tão inerte. Apesar de ver-me todos os dias, troca poucas palavras comigo. Pra falar a verdade, todos têm feito isso.
Srtª Alícia está em seu quarto, o qual divide comigo, mas ás vezes tenho dúvidas sobre isso. Fecha a hora que quer (a porta) e manda a hora que quer (eu ficar de fora), acho que isso nem me incomoda mais. Enquanto tiver uma folha e uma caneta, talvez arrume uma forma de relaxar.
Srtª Lindsay não dorme por aqui hoje. Outra vez foi para a casa do namorado. Esse fato tem sido muito deselegante. Percebo que agora só vem para cá quando tem vontade (ou fome).
Todos estão muito preocupados com o casamento de Lindsay e seu noivo, John, que as vezes irrita-me bucados, mas... A cada refeição esse é o assunto, a cada partir do pão: fez-se o diálogo. Nada mais comentando, além disso. Tornou-se pauta das manhãs, das tardes e das noites e assim será até que o matrimonio seja efetivado.
Tinha dito que todos andam preocupados com o casamento, mas permita-me uma correção: todos exceto Sra Alícia, que sempre fala do evento, no entanto para encher-nos de fofoquinhas tolas sobre as pendências que precisam ser resolvidas. Sempre está à procura de uma oportunidade para encher os lábios de conversas a respeito do relacionamento da irmã. Acho que ela não gosta (do casamento e da irmã).
Tenho muita pena do Sr e da Sra Freldman que dormem pouco, ouvem muito e aturam bucados. Na vida deles tudo é sempre igual, tudo comum. Nada a mais, nada a menos. E quando surgem novidades são dessas que exigem horas de insônia e algumas moedas do bolso. E nem gostaria de tocar nesse assunto, falar de dinheiro na presença do Sr Freldman é provocá-lo excessos de descontentamento. 
Sr Freldman vive falando o que não pode e não consegue fazer por causa das benditas moedinhas. Não queira estar pro aqui quando ele volta do supermercado ou quando chega uma conta: é blábláblá na certa!
Sra Freldman é bem diferente. Tenta ser oposto disso, mas sem sucesso. Dá para perceber que tem inúmeros desejos, vontade e garra, mas falta-lhe apoio, daí: acostumou-se. E isso, já faz cerca de 30 anos.
A alegria desse lugar baseia-se em algum tempo assistindo tv ou numa reunião em família. Mas quem sempre consegue arrancar boas risadas desses são os animaizinhos. Os cachorrinhos fazem um bem imenso para esse lugar e, sem dúvida, são fator relevante para que tudo não voe e o teto caia sobre as cabeças.
Entretanto, tudo é simples e normal. Nada de anomalias, extraordinário ou assustador. Para falar a verdade, tenho para mim que, todos se amam (não demasiadamente muito, nem demasiadamente pouco), todos têm uma afeiçãozinha uns pelos outros. Porque, hora ou outra tudo acaba se concertando.
Ao meu ver, esses loucos, até formam uma boa família. Então, agora que contei à vocês um pouco sobre eles, vou colocar um bom agasalho e meias nos pés. Ah, quanto a mim? Ah, eu sou uma caminhante, menina diferente por aqui.
 
"Em algum lugar além do arco-íris/ Lá no alto, há um lugar do qual ouvi falar uma vez
Em uma canção de ninar/Em algum lugar além do arco-íris/ Os céus são azuis/ E os sonhos que você ousa sonhar se realizam de verdade."  ( Somewhere Over The Rainbow)

1 Responses to - Das Relações (Conto)

  1. Tawane Says:
  2. Adorei esse texto! Parabéns Valéria! (Essa música é linda).

     

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