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Por que morremos? – será que há respostas?

Postado por Marlon Marques. 25 de julho de 2012

por Marlon Marques.



















Fui perguntado hoje por uma aluna sobre o porquê as pessoas morrem. Nem demorei e disse que se tratava de uma questão complexa e difícil, mas esbocei uma reposta – uma resposta possível. As pessoas morrem de diversas formas: de causas naturais (velhice), de doenças (independente da idade) ou de acidente – desconsidero aqui o suicídio. A morte por velhice é normal. Nosso corpo segue um ciclo – nascimento, juventude, amadurecimento e morte. As células envelhecem, o corpo se transforma, se enfraquece, os órgãos falem (falência múltipla) – e isso provoca a morte. Em condições normais, todos passaremos por isso, exceto se contrairmos uma doença ou sofrermos um acidente. Mas isso só responde parcialmente a pergunta. Vamos ampliá-la. Porque a morte é algo inaceitável pra nós? É normal morrer de velhice, mas ninguém aceita mesmo assim. Porém, se analisarmos bem, as pessoas se acostumam e vivem normalmente após a morte de um ente querido com idade avançada. E por quê? Antes, é necessário dar uma pequena volta. Aristóteles disse que o telos (a finalidade) do homem é a felicidade. Por felicidade, entendemos aqui (e para esse contexto), como um estado de bem-estar duradouro alternado por momentos ruins – já que não se pode ser feliz o tempo todo. Dentro da felicidade encontramos alguns itens: carreira, dinheiro, bens, realizações, amor, amizades, família, etc. A função da carreira é trazer a sensação de utilidade. Sou útil para a sociedade, pois estudei e me tornei bom em alguma coisa. A carreira traz como conseqüência o dinheiro. A função do dinheiro é conquistar coisas que possuem um preço – não valor, nisso incluem-se os bens. A função dos bens é mostrar seu sucesso, é a materialização e a evidência do dinheiro que possui, e conseqüência direta da carreira bem-sucedida. A função das realizações é evidenciar o aproveitamento da vida. Aproveitar a vida é conhecer lugares novos, ajudar pessoas, construir coisas, deixar sua marca na história, etc. A função do amor é a plenitude. A plenitude de se completar em outra pessoa e saber que outra pessoa se completa em você. A função da amizade é a alegria, a divisão das coisas, a retribuição e a gratidão. A função da família é a permanência no tempo, a dedicação, a entrega, a união, etc.
























Algumas pessoas defendem a tese de que não há tempo pra ser feliz, ou seja, se pode ser feliz em qualquer tempo da vida. Entretanto é razoável concordar que existe um marco temporal e etário em nossa vida em que construímos as bases de nossa felicidade – de acordo com os itens citados. Esse período vai dos 18 aos 38 anos (hipótese). Esse é o momento da vida em que temos mais vigor, condições e disposição para alcançarmos esses itens. Veja – com 15 anos não se pode trabalhar. Com 19 anos, ainda não se completou a formação. Com 21 anos ainda não deu tempo de adquirir o dinheiro suficiente para se conquistar os bens. Com 25 anos ainda não deu tempo para adquirir a bagagem de vida para se constituir uma família. Entretanto, usando John Locke – o homem tem direitos naturais (dados por Deus) e um deles é o direito a vida – e depois a constituição americana acrescentou o direito a procura da felicidade. Todos nós temos o direito de procurar a felicidade – e sem dúvida, o direito a vida. As pessoas não aceitam a morte em hipótese nenhuma, mas sobretudo, é difícil de aceitar quando ela ocorre entre os 18 e os 38 anos. Como aceitar a morte no auge da vida? Como aceitar que alguém foi privado de concluir sua busca da felicidade? Julga-se que se alguém não conseguiu completar esse ciclo, não foi totalmente feliz. É comum se perguntar por que aquela pessoa. Mas que diferença faria se fosse outra pessoa da mesma idade? É comum ouvirmos: “nossa, se foi e era tão cheio de vida” – “tantos planos pela frente”, etc. A morte na velhice torna-se mais natural ainda diante desse quadro, pois supõe-se que alguém com 90 anos viveu muito e se não foi feliz, ao menos teve a chance de sê-lo. Mas quem somos nós para questionarmos os desígnios de Deus. Mas, será mesmo que quando uma morte ocorre é da vontade de Deus? Será que tudo o que acontece no mundo – inclusive o mal e todas as desgraças tem origem em Deus? Santo Tomás de Aquino disse que “Deus não interfere diretamente nos fatos da criação”. Há quem defenda que nada acontece sem o consentimento de Deus. Outros isentam Deus de qualquer responsabilidade sobre as coisas exclusivamente humanas – aliás, onde está o livre-arbítrio? Finalizo esse texto – porém não o concluo, dizendo que a morte é natural quando atingimos uma certa idade, mas a fatalidade – ou seja, quando ocorrem acidentes ou mortes inesperadas (sim, há mortes esperadas) – é algo a qual estamos sujeitos. O entrelaçamento das ações humanas e suas interações, produzem conseqüências e efeitos sobre todos – onde uma ação minha pode interferir na vida do outro. Portanto, temos a liberdade de escolher nossos caminhos, e o caminho da morte é uma conseqüência natural das nossas escolhas – a dizer o livre-arbítrio, já que se não o tivéssemos, acusaríamos Deus de arbitrariedade, mudando a seu bel prazer nossas ações. Porque morremos? Porque a morte faz parte da vida e a fatalidade nos cerca a todo instante por uma escolha que é só nossa.

“Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte”.
Sêneca.








2 comentários

  1. Gostei da matéria li ela por inteiro, e gostaria agora de fazer minha critica sobre a mesma,em primeiro instante concordo com boa parte do que você falou a única coisa que realmente fiquei incomodado foi quando citou Deus. Logo que nem todos acreditam na existência de uma divindade por isso logo deveria exclui-lo ou também abordar outras crenças e etc. Fora essa parte achei ela bem interessante.

    Atenciosamente, Pudimsovietico

     
  2. Tawane Says:
  3. Grande Marlon! Concordo com seu texto. A morte, em certa idade, é natural, porém estamos sujeitos a fatalidades que podem ceifar qualquer possibilidade. Mas, se me permite a analogia, a vida é como um texto redigido ao longo do tempo e que um dia deve ser concluído; mesmo o mais belo dos textos. E ainda assim, a morte é a conclusão onde ninguém quer chegar – ou quase ninguém.
    Abraços!

     

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